Iniciamos a celebração do Advento dentro do Ano da Fé. A qual “Mistério da fé” nos referimos neste tempo litúrgico? Penso que poderíamos resumir os vários aspectos da nossa fé, implicados no Advento, com esta afirmação: “creio no Deus que vem”.
Nosso Deus não é estático, nem imóvel ou fechado em si mesmo. A criação do mundo já revelou que ele “saiu de si mesmo”, expandiu a sua glória e imprimiu sua sabedoria em incontáveis obras, dando-lhes o ser e a dinâmica própria. E veio ao encontro do homem, criatura que ama mais que todas, pois nela imprimiu “sua imagem e semelhança”, dando-se a conhecer a ele, dialogando com o homem e chamando-o a ser seu cooperador e amigo.
O Deus em quem nós cremos, portanto, não é simplesmente abstrato, distante, incognoscível. Ele é, sim, o Deus grande e misterioso, que supera tudo o que possamos pensar e dizer com palavras e conceitos humanos; mas não é inacessível, ausente, desconhecido. É o Deus sábio, providente, atraente e amoroso que, de muitas formas, deu-se a conhecer ao homem.
Cremos no Deus fiel, que promete e cumpre; pode o homem falhar e ser infiel ao seu pacto com Deus; mas Deus fala e cumpre, pois é verdadeiro não só no existir, mas também no agir. Num mundo de aparências e dissimulações, de deslealdades e mentiras, parece até impossível que alguém não seja assim. Mas nosso Deus é veraz e totalmente digno de confiança.
Cremos no Deus que se tornou próximo de nós por meio de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem por meio da Virgem Maria: em Jesus Cristo, cujo nascimento recordaremos novamente no Natal, Deus aproximou-se de maneira inimaginável do homem, assumiu a nossa frágil condição para estar ao nosso lado, falar-nos humanamente, ouvir nossos gemidos, mostrar-nos o caminho do acesso a ele e comunicar sua Santidade à nossa humana e pecadora natureza.
O Natal celebra um Mistério da fé tão grande, que aos homens parece impossível ser verdadeiro; sábios e entendidos ficam confusos e permanecem descrentes; mas os pequenos e humildes se alegram, pois são capazes de compreender que aquilo que não é possível ao homem, a Deus é possível!
Cremos no Deus que virá. Nossa fé nos fala de Deus como aquele que nunca está ausente da vida do homem e do mundo, mas tem seu olhar continuamente voltado para a “obra da sua sabedoria”. Nada mais contrário à nossa fé católica, que imaginar um Deus de braços cruzados, ausente, distraído e desinteressado das coisas que não são Deus. Mesmo deixando a liberdade e a autonomia às coisas criadas, Deus as acompanha com seu olhar providente, continuamente voltado para nós e para tudo o que criou com amor; um olhar amoroso e continuamente criador que, se fosse desviado por um instante, deixaria as coisas caírem novamente no seu nada.
O Advento também nos fala do “Deus que virá”; a seu encontro nós vamos, passo a passo, para estar com ele definitivamente no final de nossa vida. Por isso, a Liturgia do Advento nos chama à vigilância, para não nos distrairmos ao longo da vida, nem perdermos o rumo e a grande meta do caminho, que é o encontro definitivo com Deus e a felicidade sem fim.
Esta vida é, para nós, o tempo de realizarmos o bem e de correspondermos ao amor do Deus que vem, optando livremente por ele; e assim, deixando-nos atrair e envolver por ele, vivendo entre as coisas que passam, busquemos continuamente as que não passam.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Qua, 05 de Dezembro de 2012 12:40
por: cnbb