Seg, 05 de Novembro de
2012 14:22
por: cnbb
Dom Orani João
Tempesta
Arcebispo do Rio de
Janeiro (RJ)
Sua Santidade, o Papa
Bento XVI, inaugurou no último dia 11 de outubro, o “Ano da Fé”.
O evento comemora as celebrações em torno da abertura do Concílio
Vaticano II, acontecimento eclesial de maior importância do século
XX. O principal objetivo do Ano da Fé é promover a nova
evangelização, ajudando todos os homens e mulheres a redescobrirem
a alegria de crer mesmo diante da desertificação espiritual do
mundo e seus efeitos nefastos na vida do ser humano. Na homilia de
abertura, Bento XVI fez referência à cegueira do homem moderno, que
por vezes perdeu a visão da fé e precisa reencontrá-la na pessoa
de Jesus. Bartimeu é um exemplo de alguém que perdeu a visão e
queria reencontrá-la. Alguém que havia perdido a luz. Contudo,
guardava dentro de si a esperança de poder ver de novo. Essa
possibilidade foi real em Jesus Cristo. Ele é a luz do mundo e só
Ele tem poder de recobrar a visão, devolvendo ao homem a capacidade
de ver de novo.
A partir daí, o Papa
apresenta os passos necessários a serem dados: reconhecer-se cegos,
necessitados da cura, da ajuda de Jesus; recorrer a Ele a partir de
uma orientação segura e firme da vida e, a partir de uma nova
evangelização, deixar que Jesus nos abra os olhos e nos devolva ao
caminho.
“Na fé ecoa o eterno
presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser
acolhida no nosso hoje, que não torna a repetir-se. Por isso, julgo
que a coisa mais importante, especialmente numa ocasião tão
significativa como a presente, seja reavivar em toda a Igreja aquela
tensão positiva, aquele desejo ardente de anunciar novamente Cristo
ao homem contemporâneo”, afirmou o Papa.
O Papa lembra-nos da
necessidade de reavivar na Igreja o entusiasmo contagiante em
anunciar a Cristo e diz que para tal é necessário estar apoiados
numa base sólida e precisa, e esta se encontra nos documentos do
Concílio Vaticano II, onde ele esclarece: "A referência aos
documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrônicas como
de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade.
O Concílio não excogitou nada de novo em matéria de fé, nem quis
substituir aquilo que existia antes. Pelo contrário, preocupou-se em
fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue
a ser uma fé viva em um mundo em mudança”.
O Papa ainda lembra que
a proposta do Ano da Fé ao lembrar a abertura do Concílio é por
necessidade de aprofundar e viver a fé, ainda mais do que há
cinquenta anos. É perceptível nestas últimas décadas o rápido
crescimento de uma espécie de "desertificação espiritual",
que pode trazer nefastas consequencias ao homem. Contudo, o Papa
recorda que é neste vazio, e, a partir dele, que se pode redescobrir
a alegria de crer, sua importância vital para a humanidade e a
possibilidade de um profundo encontro com a graça de Deus que
liberta a todos e ao mundo inteiro de um pessimismo destruidor.
A experiência do
deserto na tradição cristã é muito rica. Basta lembrar a vitória
de Cristo diante das tentações, a vitória do povo de Deus escravo
no Egito rumo a Terra Prometida, e os primeiros séculos do
cristianismo, quando muitos abandonavam a vida das cidades e iam para
o deserto para estarem a sós com Deus, revitalizando suas vidas e
redescobrindo aquilo, ou melhor, Aquele que os fazia viver. A
sabedoria dos Padres do deserto é fonte de sabedoria até hoje para
os nossos dias.
Ao concluir sua homilia
sobre o Ano da Fé, na Santa Missa de sua abertura, o Papa ainda
ressaltou que o Ano da Fé é uma maneira de se experimentar "uma
peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve
levar apenas o que é essencial: nem cajado, nem sacola, nem pão,
nem dinheiro, nem duas túnicas – como o Senhor exorta aos
Apóstolos ao enviá-los em missão – mas sim o Evangelho e a fé
da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Vaticano II são uma
expressão luminosa, assim como o Catecismo da Igreja Católica,
publicado há 20 anos".
O Ano da Fé deve fazer
resplandecer em toda a Igreja a realeza de Cristo, seu amor especial
por todos os homens e mulheres, sobretudo pelos mais pobres e
enfraquecidos. Deve ser uma oportunidade de reavivar a fé e o
dinamismo evangelizador de todo o corpo místico da Igreja, onde
somos chamados a contagiar o mundo com a força da fé e da caridade
a ela inerente.
O Papa destacou ainda
três grandes pastorais que devem nortear este Ano da Fé: os
Sacramentos da Iniciação Cristã, a missão ad gentes e a
evangelização dos batizados que não vivem as exigências de sua
fé. Diz ele: “A Igreja procura lançar mão de novos métodos,
valendo-se também de novas linguagens, apropriadas às diversas
culturas do mundo, para implementar um diálogo que se fundamenta em
Deus, que é Amor". Lembra que Bartimeu fez a experiência do
encontro com Jesus Cristo, e tornou-se, assim, discípulo do Mestre,
e comparou Bartimeu com os novos evangelizadores de nosso tempo: “são
os novos evangelizadores: pessoas que fizeram a experiência de ser
curadas por Deus, através de Jesus Cristo”. Eles têm como
característica a alegria do coração, que diz com o Salmista: O
Senhor fez por nós grandes coisas; por isso, exultamos de alegria!
Que o Ano da Fé seja a
possibilidade de nos reencontrarmos com Jesus Cristo e assim podermos
ver e redescobrir as maravilhas que Ele opera no caminho da história
humana. Muitos já se santificaram n’Ele e muitos outros devem
ainda fazê-lo.
Estejamos atentos aos
sinais e a tudo aquilo que Ele nos quiser indicar. Vale a pena ouvir
sua voz, reconhecer sua presença e deixar-se tocar por Ele.
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