O tempo sagrado da Quaresma é de preparação para a Páscoa, a maior festa do cristianismo. Esse tempo litúrgico convida-nos à conversão, à mudança de mentalidade e de atitudes, a fim de que possamos celebrar dignamente os mistérios da morte e ressurreição de Jesus Cristo.
A Quaresma é o grande retiro espiritual dos cristãos. Na agitação do dia-a-dia, somos convidados ao silêncio, para ouvir a voz de Deus; diante da violência, da agressividade somos chamados à misericórdia e ao perdão; em meio aos apelos do poder, do prazer, das riquezas, somos convidados à humildade, à sobriedade, ao desapego; vivendo numa sociedade individualista, somos chamados à partilha, à fraternidade.
Para vivermos esse grande retiro, o Evangelho nos propõe a prática da oração, da esmola e do jejum. Pela oração, entramos em comunhão íntima com Deus, vivendo plenamente nossa filiação divina. Através dela estabelecemos um diálogo com o Pai, falamos e ouvimos, revisando nossas atitudes. A oração se manifesta em nossas preces de louvor e gratidão, de pedidos de graças e de perdão. A oração se manifesta, também, na atitude de escuta dócil em relação a Deus, procurando descobrir sua vontade, de modo especial através da meditação da sua palavra.
A esmola é um gesto concreto pelo qual manifestamos nossa fraternidade, reconhecendo no necessitado o irmão. Dar esmola não é um simples ato de filantropia, mas a expressão concreta de amor para com o irmão empobrecido, vendo nele a imagem do próprio Cristo (cf. Mt 25,34-40). Mais que a oferta material, a esmola deve exprimir nossa solidariedade, nossa doação, a doação da própria vida. E deve, principalmente, motivar-nos ao compromisso com a justiça, lutando para a construção de uma sociedade mais fraterna e igualitária, em que todos possam ter direito a uma vida digna.
Outro gesto importante é o jejum. Essa prática só tem valor quando nos leva à prática da justiça social, como nos adverte o profeta Isaías: o jejum que Deus aprecia é desatar as ligaduras de impiedade, libertar os cativos, eliminar toda opressão, repartir o pão com que tem fome, acolher os pobres e peregrinos (cf. Is 58,6-10).
Todas essas práticas que caracterizam o grande retiro quaresma devem nos levar à conversão, pessoal e da sociedade.
O grande anseio do povo é por vida nova e a ressurreição de Jesus veio trazer essa vida. Por isso, empenhemo-nos em viver o retiro quaresmal de modo intenso, a fim de que a celebração da Páscoa traga a cada um e a todo o povo a esperança de uma nova vida e de uma nova sociedade, marcadas pelos valores do Evangelho.
Dom Moacyr José Vitti
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