A palavra Liturgia quer dizer serviço, trabalho, no sentido de doação. Na Grécia antiga, quando alguém prestava um serviço relevante à comunidade, se dizia que estava fazendo liturgia. Fazer Liturgia na Igreja é realizar um serviço que construa unidade e conduza a comunidade ao louvor e agradecimento a Deus por tudo o que Ele nos dá. Fazer Liturgia é se abrir para o serviço simples e humilde, reconhecendo que tudo é feito para Deus através de uma celebração harmoniosa e bem conduzida. Como em uma grande orquestra, é indispensável que todos emprestem sua colaboração segundo os sinais do maestro, mesmo que alguma coisa seja contrária à forma pretendida.
A sinfonia da Liturgia é composta por sinais sensíveis e claros, capazes de conduzir a assembleia a uma perfeita participação no rito sagrado, o santo sacrifício da Missa e em outros momentos sagrados, quando louvamos e prestamos culto a Deus.
Celebrar é festejar, é alegrar-se com a vida e com as coisas criadas por Deus. Uma boa celebração é como uma orquestra muito bem treinada e afinada: são muitos músicos, sob a regência de um maestro, que conduz a sinfonia capaz de enlevar e embevecer as pessoas. Quando bem conduzida, as pessoas saem mais “leves”, enternecidas e felizes. Na Missa acontece o mesmo: também temos um “maestro”, o padre e muitos “músicos”, os componentes da celebração, leitores, comentarista, salmista, músicos, quem ornamenta o ambiente, quem recebe as pessoas na porta e as conduz a um lugar, enfim, todas os que se envolvem para que tudo transcorra bem e a assembleia possa realmente participar, louvar a Deus, agradecer pelos benefícios recebidos durante a semana e pedir força e a graça para a semana que começa.
Muitas pessoas vêm à Missa, assistem a celebração e saem "quase" tão vazios quanto chegaram. Digo “quase’ porque Deus faz a sua parte ,mas a pessoa que não entende muito bem o que acontece, assiste mas não se envolve, não participa, por isso não consegue absorver tudo o que Deus disponibiliza ou coloca à sua disposição. Entre assistir e participar tem uma diferença muito grande. Assistir não gera compromisso, não provoca mudanças, não envolve partilha nem entrega. A pessoa que assiste pode até vibrar durante o tempo do evento, mas passado este, vai embora sem dar nada ou sem guardar recordações. Podemos ver isso numa partida de futebol: a plateia assiste, vibra, torce, grita e até briga, mas passado algum tempo, nem mesmo se lembra dos detalhes da partida. Pode se lembrar do resultado, quem perdeu ou ganhou, mas fica nisso. Já a participação é entrega, partilha, doação, é viver o acontecimento entregar a própria vida para que tudo aconteça. Quem participa nunca esquece os detalhes, mesmo depois de muitos anos. Participar é ser parte do acontecimento e membro da equipe. É doar-se para atingir o resultado e até morrer por ele se for preciso.
Na vida da Igreja precisamos aprender a diferencia entre assistir e participar para podermos entender o que acontece aos nossos olhos. Precisamos viver o sacrifício e o mistério para sermos realmente povo de Deus, nação escolhida e merecedora da salvação eterna, razão e meta dos plano de Deus para nós. Somente quando realmente participarmos do mistério vamos entender o sacrifício onde Jesus é vitima e sacerdote e nos torna oferendas agradáveis a Deus.
A Liturgia nos ajuda a sermos participantes do grande sacrifício do Cordeiro e a caminharmos nas trilhas marcadas por Deus e que conduzem ao Reino prometido, Reino de amor, de justiça e de paz para todos.
João Batista Barbosa Bueno
Diácono, notário na Câmara Eclesiástica e Chanceler do Bispado de Santos
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